Como uma fenda se abrindo entre os trov?es, ele emergiu da escurid?o. O uniforme preto reluzia com a chuva que deslizava pelos contornos do tecido. Os cabelos prateados grudados ao rosto; os olhos de a?o fixos na criatura — frios, implacáveis. Seu semblante era o de alguém que já conhecia o destino e o aceitava.
— Fique atrás de mim — disse ele, firme, sem tirar os olhos da amea?a.
A garota recuou. Onnerb, ainda no ch?o, assistia. Sangue escorria da testa, e mesmo confuso, soube ali: n?o estava diante de alguém comum.
A sombra emitiu um ruído grotesco, misto de chiado e rosnado. Saltou.
Mas Fernando já havia se movido.
A chuva parou por um segundo.
N?o porque deixou de cair — mas porque os olhos de Onnerb n?o conseguiam mais acompanhar. Cada gota parecia congelar no ar, suspensa, reagindo ao movimento súbito de Fernando, como se o mundo tivesse sido puxado para um plano de pura velocidade.
Sua arma n?o era uma espada comum. Em suas m?os, um núcleo de luz escura pulsava, e ao seu comando, transformava-se. Primeiro uma lamina longa, depois uma corrente, e ent?o um bast?o — cada forma surgia no exato momento em que era necessária, adaptando-se com fluidez à exigência da batalha.
Fernando girou o bast?o, desviando da garra da criatura com margem mínima. O impacto cortou o ar, explodindo as gotas ao redor em uma aura de água quebrada, como estilha?os de vidro líquido. Ele deslizou pelo ch?o molhado, rodopiou com precis?o absurda e, em meio ao movimento, sua arma reconfigurou-se: o bast?o se retraiu num instante e virou duas laminas curvas.
Dois cortes secos.
A criatura urrou — um som que reverberou pelos corredores como um trov?o preso.
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O monstro recuou, mas Fernando n?o deu espa?o. Avan?ou como uma tempestade viva. A chuva acompanhava seus passos, como se se curvasse à sua presen?a. Cada golpe que ele desferia fazia o ch?o estremecer, e os respingos viravam pequenas ondas, reagindo à press?o que ele impunha ao ambiente.
A criatura tentou reagir. Disparou garras na horizontal. Fernando baixou o corpo, a arma se fundiu novamente, transformando-se agora em um escudo. O impacto foi brutal. O corredor tremeu. Mas Fernando resistiu.
Ele girou o escudo, empurrou a criatura com for?a bruta e, em um salto perfeito, voltou ao ch?o com a arma agora assumindo a forma de uma lan?a negra com ponta prateada. Com um único impulso, perfurou o ombro do monstro, que soltou um grito agudo, recuando desorientado.
Chuva e sangue se misturavam no ch?o. As paredes, já rachadas, pareciam presenciar uma batalha de deuses em um campo profano.
Onnerb, at?nito, tentou se levantar. Viu o reflexo da lan?a em seus próprios olhos. N?o conseguia se mover. Era como assistir a um fen?meno.
Fernando deu mais dois passos lentos. A arma girou sozinha em sua m?o, voltando à forma de uma espada curta dupla, que se encaixou em seus bra?os como se fosse a extens?o de seu próprio corpo.
A sombra avan?ou pela última vez, desesperada. Mas Fernando estava pronto. Ele girou o corpo, desviou com maestria e, num movimento final, executou um corte cruzado no ar — rápido, preciso, devastador.
Ent?o o Silêncio pairou.
A criatura caiu de joelhos.
Ainda n?o morta.
Mas vencida.
Fernando olhou para Onnerb, e com um golpe certeiro, finalizou o que havia sobrado da sombra.