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SÃO MINHAS ESCOLHAS

  A forma que uso n?o modifica em nada o que sou, apenas reflete o que vai no meu cora??o.

  - Ent?o aqui está você. Espero que n?o fuja agora – zombou, girando a espada na m?o.

  - N?o se arrisque, demiana. Vá! – alertou, a voz com um timbre de distancia. – Você me fez perder um fio de paz que eu havia conseguido. Vá embora!

  éfrera fincou os pés no solo, se preparando para o combate. Ia retrucar à ordem enfezada do outro, mas a forma como foi atacada foi surpreendente. Ainda formulava uma frase na mente quando o viu se aproximar brutalmente, os olhos vermelhos repletos de amea?as. Na violência do choque das espadas as árvores foram violentamente chacoalhadas.

  éfrera se agachou e girou, a espada se antecipando ao seu próprio giro. Mas, Mercator n?o estava mais lá, mas sim ao seu lado, a espada baixando com potência.

  éfrera saltou do sambaqui, e mais uma vez, para escapar do terrível golpe que Mercator desferia. Uma fileira de árvores foi cortada como manteiga, caindo com exasperante lentid?o, como se, surpresas, sem entender o que havia conseguido, ainda tentassem se manter em pé, sobre os cotos.

  A demiana conseguiu a custo bloquear um terceiro golpe, enquanto buscava o corpo daquele terrível dem?nio com sua adaga.

  Mercator apenas se afastou, como num movimento casual. Num gesto seco embainhou a espada, o olhar fixo na demiana.

  - Você é apenas um instrumento. Gosta de ser assim usada?

  E, ante a surpresa da demiana, bateu as poderosas asas, se perdendo pelas copas das árvores.

  éfrera suspirou fundo.

  Com um grito rouco de revolta se lan?ou atrás do dem?nio.

  No segundo dia de procura sentiu de longe um lugar sombrio, solitário, onde parecia que nenhuma vida tinha encontrado. Ficava num contraforte de uma montanha. Assim que desceu deu com uma caverna escura e rasa, cheirando a bolor e abandono.

  Parou na entrada, examinando seu interior.

  O grito ecoou pelas montanhas enquanto sentia dedos como garras segurando seu pesco?o. Pelo canto dos olhos via a ponta fina e terrível de uma espada rubra à sua esquerda.

  Tentou se libertar, tentou enfrentar o que buscava sua destrui??o, mas descobriu que essa possibilidade n?o existia. Uma for?a terrível parecia penetrar seu corpo e tirar-lhe toda a vontade e for?a, estava vencida sem nem mesmo ter tido a possibilidade de se defender.

  - Acho que terei três dias com um anjo – ouviu uma risada que gelou seus ossos.

  - Você é um louco, girando nessa cantilena de três dias – conseguiu gemer pela sua garganta dolorida e quase esmagada.

  - Você saberá, demiana... – ouviu vindo daquela voz terrível, que parecia tornar aquele gigante ainda mais escuro.

  Com horror percebeu que ela havia disparado uma lembran?a nele, e nela ele se prendera.

  Como última cartada puxou as pernas contra o bra?o dele, uma das adagas rasgando aquele bra?o escuro.

  Foi ent?o que, num giro do grande pulso, de súbito ele a atirou contra a parede da caverna, um sorriso terrível pregado na cara grande.

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  éfrera ficou alguns segundos desesperados tentando se recompor, torcendo para que tivesse tempo.

  Ao sentir que estava mais pronta se levantou, sacando sua espada e se voltando para encarar o inimigo, sua mente rememorando tudo o que sabia sobre ele. Foi ent?o que algo surgiu em sua mente.

  Mercator a mantinha sob o olhar. Num movimento estudado avan?ou um passo.

  - Vou me dar mais tempo com você, demiana – saboreou.

  Com um gesto dos dedos ela a fez surgir, frágil e luminosa à frente dos pés do dem?nio, que parou e ficou estudando-a.

  Tomado de pensamentos Mercator avan?ou a ponta da espada, que encostou no pequeno e frágil tronquinho da flor azul. Ent?o sorriu em paz. Levantou os olhos e encarou a demiana, que podia jurar que via ali apenas tristeza.

  éfrera, absorta na tristeza que vira, até mesmo se esqueceu de aproveitar o momento de distra??o dele e atacá-lo com toda a for?a, apesar de desconfiar que ele n?o estava indefeso e distraído.

  Ali estava ele, Mercator, parado, encarando-a, a enorme espada de fogo ao lado do corpo, a face voltada para a sua, os olhos em frestas, avaliando.

  - Vá embora! – ele disse, e sua voz já n?o era mais a voz terrível do dem?nio enlouquecido, mas parecia cansada e pesada. Como possuída por algum pensamento viu a espada passar suave e cortar o caule da flor, que tombou suave no ch?o e se desfez.

  éfrera ficou imóvel, tentando entender o poder daquela flor sobre o gigante.

  > Vá embora – repetiu ele, agora em outro tom. A voz gutural e grave que agora ele usara lhe deixou um frio no cora??o, e ficou se perguntando como seria um encontro entre ele e o grande Medriel. Mas, Medriel n?o estava ali; ela estava.

  - Irei, quando resolvermos o que me trouxe para este lugar esquecido. Você é um dem?nio, e eu ca?o dem?nios.

  - Nunca a solid?o, nunca o abandono. Por que n?o esquecem de mim, por que n?o me deixam em PAZZZZZ...

  A frustra??o e a raiva impressa naquele grito a impressionaram, e uma pergunta resvalou em sua mente: Paz? Esse demónio quer paz??? Será que é isso que a flor azul quer dizer?

  Nem bem terminara de falar Mercator avan?ou com fúria, a espada subindo e descendo, rasgando as paredes de rocha, se batendo contra a lamina da demiana com um poder terrível, empurrando-a com brutalidade para os lados. éfrera sustinha com imensa dificuldade os golpes, procurando algum descuido para um contragolpe. Num momento ela se esquivou e girou, avan?ando a lamina de fogo azul, passando a centímetros do lado de Mercator, deixando em seu lugar um queimor.

  Mas Mercator parecia n?o ter sentido ou se importado com a possibilidade de ser atingido. Como um ceifador continuava atacando, como um aut?mato continuava avan?ando sobre a demiana. Das paredes rasgadas da caverna caiam blocos de pedra. A caverna gemia e parecia que iria ruir a qualquer momento.

  Ela fletiu o corpo e girou, se impulsionando agachada por baixo dele. Com um movimento impulsionou os joelhos e rodou o corpo, se elevando rapidamente às suas costas. Num salto a espada buscou seu pesco?o enquanto sua m?o procurava atingi-lo com o punhal na têmpora esquerda.

  Mercator susteve o golpe do punhal enquanto sua espada bloqueava o acesso da espada azul à sua garganta.

  Num movimento rápido girou a cabe?a para baixo e livrou-se do golpe da demiana.

  Sem aviso afastou um passo e colou a espada à sua perna, os olhos se prendendo nos olhos da demiana, que se p?s em espera, a espada apontada para o seu peito, enquanto o punhal brilhava na m?o, em angulo aberto na altura dos ombros.

  - Vá embora – insistiu ele novamente, a voz outra vez parecendo pensativa e abatida.

  - Por que me deixaria ir? – ela rilhou, estranhando a atitude do dem?nio.

  Ela o viu levantar um bra?o, o dedo indicador apontando com suavidade para o lugar onde ela invocara a flor.

  – Você merece a luz que brilha em você. Que se vá, ent?o.

  - Honra, é isso que eu vejo? – espantou-se, guardando a adaga e juntando a espada ao longo do corpo.

  - Por hora, você n?o tem qualquer importancia para mim. Apenas se vá e me deixe.

  Num movimento a demiana fez sumir a espada e se endireitou, notando com satisfa??o que ele também guardava sua espada.

  - O que dizem de você n?o conta que você tem algum tipo de misericórdia.

  - Alguns n?o merecem. Vá embora, vigilante – pediu novamente, se virando para a luz do dia.

  - Espere! Só me diga: você foi a causa da grande queda?

  Mercator abriu as grandes asas, que ficou movendo no vento com suavidade, como se elas estivessem pensando.

  - Eu caí muitas eras antes de vocês, e n?o procurei ninguém para culpar além de a mim mesmo, ou a um deus que se esqueceu de mim – falou subindo devagar no ar.

  A demiana ficou observando confusa o céu azul, que se tornava tormentoso na barra do horizonte. Ele n?o era nada do que fora avisada que ele seria. Havia algo de muito diferente nele. E o que ele dissera ao se despedir lhe dizia muito sobre si mesma e sobre os seus. E havia aquela flor azul... Tinha muito em que pensar... Tinha que procurar os anjos.

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