Oi.
Eu sou o Elaijah.
Essa é a história da minha adolescência...
E, pra ser sincero, ela foi tudo menos fácil.
Tenho 17 anos e estou no segundo ano do ensino médio. Estudo na Escola Pública Santa Clara.
Neste momento, estou caminhando sozinho pra casa depois de ser expulso da sala — de novo — por dormir na aula. Sempre cochilo na aula do professor Francisco, mas hoje ele n?o deixou passar. Me botou pra fora como se fosse um criminoso.
— Que cara exagerado... — murmurei, chutando uma pedra no caminho.
N?o posso ir pra casa ainda... Se meus pais descobrirem, v?o me dar uma bronca daquelas.
Acho que vou ficar um pouco aqui, debaixo dessa árvore. Um lugar tranquilo. Tiro um cigarro do bolso, acendo e respiro fundo. O silêncio me acalma... mas n?o por muito tempo.
— Ei, olha ali, pessoal! é o Elaijah... tá fumando! — gritou alguém atrás de mim.
Virei o rosto, já reconhecendo as vozes.
— Droga... — sussurrei. — Meus ex-colegas.
Um deles se aproximou com aquele sorrisinho falso.
— Você n?o devia estar na sala agora?
— Olha quem fala... — respondi baixinho, sem encará-los.
— O que foi que disse? — retrucou o outro, fazendo o grupo rir.
— Continua assim e vai repetir de ano de novo, mané — disse o terceiro, rindo enquanto se afastavam.
Esperei eles sumirem da vista antes de murmurar:
— Bando de idiotas... Todo mundo sabe que vocês subornaram os professores.
Suspirei e joguei a bituca longe.
— Acho que já tá na hora de ir pra casa...
Me lembrei que tinha comprado um jogo novo e isso arrancou um pequeno sorriso do meu rosto.
Talvez fosse a única coisa boa do meu dia.
Eu gosto de pensar que posso ser feliz sozinho. N?o sou antissocial... Tenho amigos. Poucos, mas tenho.
Moro na Centralidade do Kilamba. A escola n?o é muito longe.
Subo para o 12o andar, onde fica meu apartamento.
— Bom dia, Sr. Bernardo — cumprimentei ao passar pela portaria.
Ele me olhou com aquele jeito desconfiado de sempre.
— Tá com cheiro de cigarro, hein...
— Ah... é que... o professor tava fumando perto de mim — respondi gaguejando, tentando soar convincente.
Mentira descarada.
Entrei logo no elevador, rezando pra ele n?o contar nada pros meus pais.
— Droga, esqueci de mascar pastilhas... — murmurei.
Se minha m?e sentir o cheiro, t? morto.
O elevador chegou no 12o. Antes mesmo de sair, já dava pra ouvir gritos no corredor.
Eu já sabia de onde vinham.
Cheguei até a porta de casa. Suspirei.
— Só mais um dia...
Abri a porta. O cenário era o de sempre. Meus pais discutindo aos berros, meu irm?o de 7 anos chorando num canto da sala, sentado numa cadeira. Minha irm? mais velha ainda n?o tinha chegado da faculdade.
— Chega! — tentei intervir, mas eles nem me ouviram.
A briga só piorava, até que...
Pá.
Meu pai deu um tapa na minha m?e. Ela caiu no ch?o, chorando.
Sem pensar, me meti no meio.
— Para com isso! — gritei, tentando segurar ele.
E ent?o...
SOC!
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O soco veio direto no meu olho direito. Cambaleei.
— PARA COM ISSO, MALCOM! — gritou minha m?e, desesperada.
— Essa família é uma merda... Era melhor nem ter tido filhos! — gritou ele, com voz embriagada e olhos vermelhos de raiva.
Meu irm?o continuava no canto, chorando baixinho.
Sem dizer mais nada, meu pai pegou o chapéu dele e saiu batendo a porta.
Minha m?e se aproximou de mim, ainda com lágrimas nos olhos.
— Você está bem, filho?
— T? sim, m?e... Só um pouco tonto. Acho que vou dormir um pouco...
Perfeito! Aqui vai a vers?o revisada com mais detalhes, diálogos desenvolvidos e ritmo mais fluido. Expandi o discurso do Arnaldo, a tens?o entre Viviane e Elaijah, e o ambiente escolar para tornar tudo mais vívido e envolvente:
Capítulo - O Conselho Estudantil
Estava jogando, como sempre fazia nas tardes longas e quentes, imerso num mundo onde eu tinha controle, diferente da minha vida real. Nem percebi quando meus olhos come?aram a pesar, a cabe?a caiu de lado, e tudo apagou.
Acordei com a casa em silêncio, o céu já escuro atrás das cortinas rasgadas do quarto. Me levantei devagar, o corpo dolorido de sono ruim e o rosto… o rosto doía. Levei a m?o até o olho e senti o incha?o.
— Tá roxo — disse Elias, meu irm?o de sete anos, com aquela voz de crian?a que n?o sabe esconder preocupa??o. — Mam?e disse pra você botar gelo.
— Eu t? bem… — murmurei, tentando parecer firme.
Fui até a sala. Mam?e estava servindo o jantar. Sentei à mesa. Minha irm?, três anos mais velha, estava no canto, mexendo no celular como se nada tivesse acontecido. Como sempre fazia.
Aliás, isso… isso era normal. Uma vez por mês, às vezes até mais. Todos nós já tínhamos aprendido a fingir que n?o era nada. Fingir que roxos no corpo eram coincidências. E ent?o jantamos. Como se fosse só mais uma ter?a-feira qualquer.
No dia seguinte, me preparei para a escola. O olho ainda roxo me encarava no espelho como uma cicatriz recém-aberta.
— Droga… — resmunguei. — Preciso pensar numa desculpa.
Peguei meu tênis da Nike, enfiando o celular no bolso da cal?a. A bata branca, aquela maldita farda de escola pública que parecia mais um jaleco de hospital, só vestia quando chegava no port?o. N?o gostava de parecer um clone dos outros no caminho.
No trajeto, evitei olhar nos olhos das pessoas. Quando cheguei ao port?o, vesti a bata e entrei. Meus antigos colegas estavam no andar de cima, rindo, cochichando. Sabia que era de mim. O repetente. O único da turma antiga que n?o passou. Talvez nem t?o pelas costas assim.
Entrei na sala e fui direto para meu lugar: o último da fila, no fundo. Era o melhor lugar para quem n?o queria ser visto dormindo durante a aula, até que ela veio até mim...
Eu n?o era muito social na sala, ent?o ninguém veio me perguntar nada sobre meu rosto — só ficaram entre eles.
O professor entrou, come?ou a dar a matéria. Nem reparei no que ele dizia — até que a porta se abriu novamente. Era a diretora.
— Turma, essa é a Viviane. Ela foi transferida de outra escola há duas semanas e estava na sala ao lado. Mas, por falta de espa?o, vai ficar com vocês agora.
Me endireitei. “Viviane, nome interessante”, pensei. Ela era baixinha, óculos cor-de-rosa, cabelos cacheados. Bonitinha, mas com uma express?o de quem estava sempre de cara fechada.
O que me chamou aten??o, no entanto, foi outra coisa.
— E essa bengala aí? — perguntei, sem perceber que falei alto.
A sala inteira riu. Daquelas risadas que te fazem se sentir pequeno.
Viviane olhou na minha dire??o. O rosto vermelho, de raiva ou vergonha, talvez os dois.
— Foi a sua avó que deu — respondeu num tom sarcástico. Mas ela estava com uma express?o séria, claramente n?o gostou da piada.
— Chega! — disse o professor, sério. — Silêncio. Principalmente você, Elaijah.
A diretora olhou ao redor.
— Pode sentar… ali, ao lado do Elaijah — apontou para a cadeira vazia ao meu lado.
“Claro que ia ser aqui”, pensei.
Viviane caminhou até mim com passos curtos e secos. Sentou-se sem me olhar.
— Nem pensa que vamos virar amiguinhos. — sussurrou, ainda com raiva.
— Relaxa, baixinha, tenho gosto refinado. — respondi num tom debochado.
Ela bufou. — Arrogante.
— Mal-humorada.
— Idiota.
A aula seguiu, mas o clima entre a gente já estava criado.
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Quando tocou o sino do intervalo, ela saiu rápido. Nem olhou pra mim. Imaginei que tivesse ido ao refeitório. Eu já tinha meu lanche: um pacote de batatas e uma gasosa de lim?o, meu clássico.
Foi quando Arnaldo apareceu, esbaforido.
— E aí, Elaijah! Bora pra reuni?o.
— Que reuni?o? — perguntei, mordendo uma batata, com zero vontade de ser incomodado.
Arnaldo era meu amigo desde moleque. A gente jogava PlayStation, trocava figurinhas, falava da vida… E agora, por algum motivo obscuro, ele era o presidente do conselho estudantil.
— A do conselho! Você disse que ia entrar, lembra?
— Eu? Quando?
— No sábado, no futebol! A gente apostou que se eu fizesse mais gols você entraria pro conselho estudantil — e você perdeu.
— Achei que era só uma brincadeira!
— N?o é brincadeira, cara. Agora bora.
— Eu sou um cara ocupado, você sabe…
— Ocupado? — Arnaldo riu. — Ocupado com o quê? Dormir na aula?
Antes que eu pudesse reagir, ele me puxou pelo bra?o.
— Espera! Nem guardei meu lanche!
Mas ele me arrastou até a sala do conselho estudantil.
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A sala ficava no segundo andar, ao lado da sala de informática.
Parecia abandonada. Havia apenas sete alunos, contando conosco. Era estranho ver um lugar que já foi movimentado t?o vazio.
E ent?o vi Viviane lá.
Ela desviou o olhar, com a mesma express?o de desprezo. “Garota dramática”, pensei.
Arnaldo assumiu o centro da sala. A voz dele mudou, mais firme, quase como a de um líder de verdade.
— Pessoal, obrigado por estarem aqui. Sei que o conselho estudantil já foi maior, melhor… mais respeitado. Mas hoje, isso aqui é o que sobrou. Muitos saíram por medo. Medo dos grupos violentos, do bullying que acontece todos os dias nos corredores e ninguém faz nada. Mas eu acredito que dá pra mudar.
Fez uma pausa. Todos escutavam em silêncio.
— Nossa escola já teve prestígio. Ganhava prêmios, alunos passavam em boas universidades, professores ensinavam com paix?o. Hoje, virou piada. Mas enquanto eu estiver aqui, n?o vou aceitar isso. A gente vai come?ar pequeno, mas vai fazer barulho. Mostrar que ainda há quem se importe.
Uma garota de tran?as, sentada no canto, levantou a m?o.
— Mas como vamos enfrentar esses grupos, Arnaldo? Eles n?o ligam pro que a gente fala. S?o muitos…
— A gente n?o vai enfrentá-los com for?a. Vamos expor, denunciar, registrar. Mostrar o que acontece. E come?ar por dentro. Com a??es reais. Por isso, temos dois novos membros: Elaijah e Viviane.
Viviane fez uma careta. Eu também.
— Ué, eles se odeiam! — comentou um dos meninos, rindo.
— Ent?o v?o ter que aprender a se suportar — disse outra garota. — Adorei a energia caótica.
Arnaldo nos chamou para um canto.
— Vocês ser?o uma dupla.
— Espera, o quê? Por que com esse cara? — ela protestou. — Eu quero outro parceiro.
— Eu também concordo com ela. N?o dou certo com gente baixinha.
— Elaijah… — Arnaldo cruzou os bra?os. — Ela é minha prima.
— Ah… ent?o tá explicado. Bem que achei ela familiar.
Viviane me olhou, surpresa.
— Vocês já se conhecem, disse Arnaldo, sorrindo.
— Espera… ele n?o pode ser “O L”? Arnaldo?
— Ele mudou muito, mas sim, é ele — disse Arnaldo.
Do que eles est?o falando? E por que ela sabe meu apelido de infancia? Me questionei.
— Ela é a "V", Elaijah — disse Arnaldo, sorrindo.
— V??
Fiquei confuso, até que lembrei. Por isso aquela bengala me pareceu familiar. Arnaldo tinha uma prima com deficiência na perna esquerda que precisava de bengala para caminhar.
— Você lembrou? Vocês eram melhores amigos — disse Arnaldo.
— éramos crian?as. Ninguém liga pra isso — respondeu Viviane, meio envergonhada.
— Você tá muito diferente agora...
— Você também… virou um cara irritante.
— Quem você tá chamando de irritante, baixinha?
— Os novos membros s?o bem estressadinhos — comentou uma garota do conselho, rindo.
— Chega, vocês dois — disse Arnaldo.
— Já tenho uma miss?o para vocês.
— é nosso primeiro dia e a gente já vai cumprir tarefas? — reclamei com cara de pregui?a.
— é uma miss?o importante. Acho que vocês v?o se sair bem. E quem sabe até formem uma boa dupla.
— Você n?o pode ter certeza disso — disse Viviane, cruzando os bra?os.
— Essa miss?o é prioridade. — Arnaldo falava alto, para todos ouvirem. — Ultimamente, muita coisa tem desaparecido na escola. Muitos alunos est?o sendo roubados. Dentro da escola! Est?o levando telefones, dinheiro, lanches, relógios, entre outras coisas. Eu sei que é comum em escolas públicas, mas esses furtos passaram dos limites. E a gente precisa encontrar esse ladr?o.
— Entendido — disse a garota das tran?as. — Boa sorte pra dupla nova.
— Isso é tudo por hoje — concluiu Arnaldo, olhando firme para o grupo, mas de forma mais leve para mim.
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Voltando pra sala, comecei a pensar sobre como conheci a Viviane. Eu a chamava de V… e esqueci seu nome verdadeiro. Ela mudou muito. Antes quase n?o andava, mesmo com a bengala. Usava cadeira de rodas. Eu achava que ela era riquinha. Como veio parar numa escola pública?
A gente estava indo para a sala. Por causa da bengala, ela andava devagar, ent?o eu fiquei uns 20 metros à frente.
Chegando na sala, fui direto para meu lugar e comecei a encarar a carteira.
Uns minutos depois, ela chegou e me viu com uma cara aborrecida, olhando fixo.
— Eu n?o quero trabalhar com você, mas gosto de cumprir o que me mandam. Ent?o a gente vai ter que se dar bem até o primeiro caso. Depois disso, quero trocar de parceiro — disse Viviane, sentando-se e mexendo no caderno.
Continuei encarando a minha carteira, ignorando o que ela disse.
— Eu estou falando contigo! — reclamou Viviane.
— Roubaram meu lanche — respondi sério, com cara aborrecida.