A noite parecia n?o ter fim.
Onnerb caminhava entre Fernando e a garota misteriosa pelos corredores do Instituto Blackstorm. A água escorria das roupas, os passos ecoavam sobre o piso metálico, e o mundo parecia suspenso entre o real e o irreal. O ar estava impregnado com o cheiro de umidade e metal, e um leve zumbido elétrico preenchia o espa?o, como se o próprio ambiente estivesse vibrando com uma energia oculta.
O silêncio entre os três era quase palpável. Nenhuma palavra foi dita desde que deixaram o corredor das sombras. Apenas os sons da chuva lá fora e os pensamentos martelando na cabe?a de Onnerb. Quem s?o eles? O que foi aquela coisa?
Passaram por uma porta larga com o símbolo espiralado de Blackstorm. O interior era silencioso, iluminado por luzes azuladas que projetavam sombras dan?antes nas paredes. A ala parecia deslocada do restante da escola: paredes de vidro escurecido, ch?o liso, sensores embutidos. N?o parecia um instituto — parecia um laboratório escondido, um santuário de segredos.
Fernando parou em frente a uma sala e empurrou a porta. Lá dentro, Onnerb reconheceu uma enfermaria, mas n?o qualquer uma — havia tecnologia avan?ada, mas também símbolos antigos entalhados em círculos no ch?o e nas paredes, quase imperceptíveis, que pareciam murmurar histórias esquecidas.
— Senta — disse Fernando, apontando para a maca.
Onnerb obedeceu, o cora??o pulsando acelerado. A garota se aproximou em silêncio, pegando uma toalha embebida em soro. Limpou parte do sangue de seu rosto, mas ent?o, sem dizer uma palavra, estendeu a m?o sobre a ferida de sua testa.
— O quê...?
Um brilho suave, dourado e quente, irradiou de sua palma.
Onnerb prendeu a respira??o. Sentiu o calor penetrar pela pele e uma leve press?o na testa, como se algo estivesse sendo tran?ado por dentro. A dor sumiu em segundos. O corte... desapareceu.
Ele arregalou os olhos.
— Você... o que foi isso?
— Cura — respondeu ela, simples, sem emo??o. — N?o é perfeita. Mas é suficiente.
Fernando observava do canto da sala, os bra?os cruzados, calado.
Onnerb passou os dedos pela testa, sentindo apenas pele lisa e seca. Nenhuma cicatriz. Nenhuma dor. A experiência o deixou atordoado, n?o apenas pela cura, mas pela sensa??o de estar cada vez mais envolvido em algo que mal compreendia.
— Vocês usam... magia?
— Magia — repetiu Fernando, com leve desdém. — Palavrinha que o povo gosta. Aqui, chamamos de canaliza??o.
— Canalizar o quê?
— For?as maiores que você. Maiores que eu. Maiores que todos nós — respondeu ele, agora sério, seus olhos frios penetrando na alma de Onnerb. — E essas for?as têm um pre?o.
A garota se afastou, voltando ao silêncio de sempre. Onnerb sentiu um arrepio ao considerar o que poderia exigir esse "pre?o". Uma preocupa??o nova brotava em seu peito.
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Fernando se aproximou.
— Aquela criatura que você viu... deixou algo em você.
— Uma marca? — perguntou Onnerb, tenso.
— Um vestígio. Uma ancora. Um rastreador. Chame como quiser. N?o vai te matar, mas vai te atrair problemas. Se quiser sobreviver... vai ter que aprender a se defender.
Onnerb respirou fundo. A chuva martelava as janelas. O frio n?o vinha só do tempo — vinha da sensa??o de que ele estava cada vez mais fundo num abismo que mal compreendia.
Canalizar for?as, pagar o pre?o... O que exatamente isso significa?
— Ent?o me ensinem — disse, com a voz firme, determinado a enfrentar o desconhecido. — Eu quero aprender.
Fernando o encarou por longos segundos, como se estivesse avaliando sua sinceridade.
— Amanh?. Sala de Treinamento 7. Se chegar atrasado, eu te derrubo antes de aquecer.
Onnerb assentiu, sentindo um misto de ansiedade e expectativa.
A garota lan?ou um último olhar, e por um instante, seus olhos dourados pareceram mais suaves, quase humanos. Ela abriu a porta e, antes de sair, sussurrou:
— N?o é só lutar. é sobreviver com o que sobra.
E saiu.
Fernando o seguiu, sem dizer mais nada.
Onnerb ficou ali, sentado, ainda sentindo o calor da cura na pele e o peso de tudo que come?ava a se desenrolar. As palavras da garota reverberavam em sua mente, uma advertência e um convite. Ele agora sabia: estava envolvido até o pesco?o.
E, pela primeira vez, estava pronto.
Enquanto a chuva continuava a martelar as janelas, Onnerb contemplou o que isso poderia significar para ele. A vida nas ruas, com sua luta constante contra a fome e a solid?o, parecia ter sido apenas um prelúdio para essa nova batalha que se aproximava. A realidade de um mundo maior, onde as sombras escondiam poder e os perigos podiam ser muito mais do que uma simples briga de rua, come?ava a se formar diante dele.
Canaliza??o. For?as maiores. O que mais eu n?o sei?
Com esses pensamentos confusos, Onnerb se levantou da maca, ainda se recuperando da adrenalina da experiência recente. O Instituto Blackstorm era mais do que parecia, e ele sentia que havia apenas arranhado a superfície de algo muito mais profundo e complicado.
Decidido a n?o deixar essa oportunidade passar, ele caminhou até a porta. Enquanto a chuva continuava a tamborilar lá fora, Onnerb sentiu uma determina??o crescente. A jornada em dire??o ao desconhecido o esperava, e, n?o importava o que viesse a seguir, ele enfrentaria.
Para mim, para Gregor, para todos que ajudaram a moldar quem eu sou.
Com o cora??o pulsando forte, ele deu um passo para fora da enfermaria e assim come?ou a sua nova vida, um caminho repleto de desafios, mas também de oportunidades. Era hora de dominar suas habilidades, explorar os limites que até ent?o pareciam impossíveis e decifrar o enigma que se tornara sua existência.
Agora, a verdadeira luta estava prestes a come?ar.